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Sobre roda gigante, dança e vida

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Sobre roda gigante, dança e vida... A vida segue o seu compasso, ora se arrasta pelos cantos empoeirados do passado, ora se projeta na ilusão de sonhos descabidos e ousados. Esse é o tempero agridoce da vida, que torna a existência uma experiencia única, roda gigante eternamente a girar. Quando estamos tomados pela euforia de ver o mundo pequeno sobre os pés suspensos balançando lá de cima, quando quase podemos tocar o céu, o riso é leve e solto. Tudo é perfeito. E sem nos darmos conta, a vida segue o seu ritmo instável e a roda torna a girar. Os pés que antes se balançavam entre sonhos e estrelas, agora tocam o chão. Luzes dispersas e barulho frenético. E é nesse momento, confuso e inquieto, que os sonhos parecem se distanciar. E quando já estamos frustrados o suficiente para desistir, Deus sabiamente faz a roda girar. E lá vamos nós, tocar o céu, brilhar com as estrelas. E com o tempo aprendemos a dançar, ora pisando em nuvens, ora pulando pedras pelo caminhar.  Certa vez me di

Sobre encontros e tempestades

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Tinha sido uma péssima semana, a mais desafiadora deste ano que ainda nem começou direito. Me arrastava pelos dias, entre lágrimas e sorrisos rasos de quem cicla com a lua e com as marés. Quem me conhece, entende bem essa oscilação. Tem dias em que a tempestade chega sorrateira escurecendo o céu e fazendo pesar todo o firmamento, e é nesses dias também que os mais belos milagres acontecem. É quando o divino me surpreende, se faz humano ou as vezes paisagem, música, bicho, flor. Seja lá o que for, está sempre me encantando com seus disfarces criativos e pontualmente me encontra quando eu estou há um passo de desabar. Saímos de casa cedo. Coloquei Emicida pra tocar no celular enquanto fechava o capacete da Luma e me equilibrava na bike. “Passarinhos...Soltos a voar dispostos. Achar um ninho”, ela cantava e me pedia pra repetir a mesma música várias vezes. Eu seguia pedalando na tentativa boba de fugir das batalhas daquele dia. Parei em uma das praças que tem aqui no bairro, uma que e

Notas sobre ela

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Quando me encarei nessa foto, fiquei rindo sozinha. Olhando para ela percebi que eu tinha me transformando em uma das minhas personagens: Mercedes Ramón.  Para quem não a conhece, brinco dizendo que Mercedes é a faxineira que trabalha para mim. É a ela quem recorro quando preciso de energia para encarar aquela bagunça que se acumula pelos cantos da casa. Mercedes sabe que a lida de quem trabalha em casa é pesada mas nem por isso precisa ser um lamento.  Quando chega, prende o cabelo no alto para manter os fios longe do suor do pescoço, passa sem jeito um batom vermelho nos lábios feito menina quando rouba a maquiagem da mãe e por onde passa deixa um aroma com notas de alecrim e lavanda.  Mercedes diz que para mandar a sujeira embora é preciso dançar, movimentar a energia do corpo e também do lar. Mexe os quadris enquanto dança com a vassoura, relembra das noites de verão em Cochabamba quando dançava nos braços do seu amado. Me contou certa vez que ele a deixou, partiu sem dizer adeus e

Das tempestades e eternos recomeços

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Hoje faz 2 anos e meio que não escrevo nada. Está sendo difícil estar frente a frente com  meus antigos textos, relembrando quem eu sou. Meus textos, muitas vezes desabafo, são os  meus muitos “eus” que me fazem sentir viva. É nesse pequeno intervalo entre teclas inquietas  e pensamentos esvoaçantes que eu sinto pulsar, dentro de mim, uma inquietude que cria. Sempre me cobrei a tal força criativa, aquela que tanto vejo em minha irmã, que dá vida em  tudo que toca. Ela é maravilhosa! Pinta, desenha, cria. A veia da arte, sempre foi parte  daquela menina mulher que eu tanto admiro.  Mas, eis que hoje, talvez pela lua estar em  peixes, resolvi voltar a escrever. E escrever para mim, sempre foi como uma terapia. Sou eu  e a intimidadora tela em branco do notepad, aguardando ser preenchida com palavras que  transbordam quando o coração pulsa.  No entanto, depois de todo esse tempo, me perguntei por muitas vezes o porquê da minha ausência.  Me descobri quieta e indiferente, s

Sobre quinta-feira, júpiter e parafusos.

Não sei como se chama isso, deveria saber. Afinal, quando se sabe o nome das coisas, você sente um falso controle sobre ela. Pelo menos, é assim que funciona comigo. Não era tristeza, e definitivamente não era alegria. Era uma mistura de agonia com tédio e pitadas de desesperança, mas ao mesmo tempo, era também vontade de gritar, de se jogar, de mudar. Como definir? Seria a crise dos 30 me visitando? Talvez. Mas, isso já vem acontecendo há um bom tempo. Quinta-feira, como sempre introspectiva. Júpiter rege esse dia e por isso fica me cutucando pra me tirar da inércia, do vácuo. É sempre ele disfarçado de conselho, sussurrando no meu ouvido "torna-te quem tú és". Júpiter tem dessas coisas, de cobrar a evolução, o verdadeiro potencial e o controle de si mesmo. É ele novamente, me sacudindo pra vida.E eu só queria ficar aqui quietinha, sem nenhuma cobrança, nem pressão. Mas até quando fugir, fingir, se esconder?  OK, então vamos lá. Resolvi olhar aqui pra dentro e o

Quando as luzes se apagam

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Quando as luzes se apagam Noite, quarto escuro. O estalar dos móveis ao meu redor quebrava o silencio noturno, mas não chegava nem perto do barulho perturbador dos pensamentos obsessivos que se contorciam inquietos dentro de mim. Tomavam formas desproporcionais e, pouco a pouco, davam vida a uma realidade agonizante que só existia ali dentro. Era como estar presa por entre grades que só eu podia enxergar. E como é real! Perdi a conta das noites em que passei ali, remoendo medos absurdos e angústias de fazer o peito palpitar. A ansiedade aumentava quando, ao olhar para o relógio, me dava conta de que faltavam poucas horas pra "acordar" e ir trabalhar. Desesperada, tentava de tudo: meditação, mantra, carneirinho pulando cerca. Nada funcionava. Continuava presa no meu próprio inferno mental.  O dia amanhecia, e eu seguia com a rotina da vida, exausta e acabada em olheiras. Era hora de sair da prisão e seguir adiante, esconder o cansaço com camadas ex

Meu amigo Pedro

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Quando ele subia a rua de casa, com seus passos longos e apressados, mal sabia ele que eu estava a espia-lo por entre as grades da janela daquele casarão antigo.Era um encontro pontual. Eu esperava ansiosa ele passar, para então, acompanhar anônima seus passos até a nossa escola.  Ele alto, cabelo sem corte, com um certo vazio no olhar. Era o garoto com sua mochila verde a subir pontualmente a rua Zulmira Canavarros. Eu tinha recém me mudado para aquela casa na esquina do cemitério que ficava a uma quadra da escola, e odiava o fato de ter que passar pelo cemitério sozinha. Não conhecia ninguém, então ficava esperando ele passar, para segui-lo até a escola. Ele ia à frente, e eu atrás, me esforçando para passar despercebida. Logo descobri que ele era da minha sala. Não conversávamos muito na escola, mas compartilhávamos o mesmo tédio da adolescência. Aquela rotina chata de acordar cedo, estudar, aceitar as regras dos pais, sofrer com a pressão do vestibular, com as mudanças